quinta-feira, 8 de abril de 2010

Vazio

Tento por 5 minutos. Paro. Leio frases aleatórias. Tento novamente por cerca de mais 3 minutos. Nada. Desisto por 3 dias. Voltam-me as estórias dentro da cabeça. Imagino cenas que se adaptam aos versos que me são revelados pelo meu consciente desviado. Ligo o personal comupter. Incursiono pelo vazio. E o vazio não é tão vazio assim quanto pensava. Na verdade o vazio é cheio de coisas, em sua maioria velhas.
Além disso, e como se não bastasse, o vazio é cheio dele mesmo. Frio e muito intenso. Realmente, não é um bom lugar para se estar de livre e espontânea vontade. Problema maior existe quando somos jogados para lá em uma viagem, ao menos aparentemente, sem volta e sem acompanhante. Aí, estranho interlocutor, a coisa fica deveras feia.
Nessa minha road trip pelo vazio procuro pelo carimbo que validou o meu ticket, permitindo minha entrada nesse recinto tão... Vazio! Talvez um nome, uma data uma matrícula que possam me ajudar a lembrar dos fatos, os mais importantes, ou os sujeitos, os mais culpados.
Prossigo rumo ao centro do vazio com certa curiosidade e ânsia, olhando para todos os lados em busca de algo familiar, mas nada reconheço. E constato assustado, que tal como o universo, o vazio permanece em constante expansão, alargando suas fronteiras a todo instante.
Isso não pode ser real. Será um sonho? Ou estou muito bêbado para lembrar que estava me alcoolizando e que há muito não sei quem sou? Pela tintura do céu acredito que a alvorada já esteja caminho, pois os primeiros raios já se espremem pelas nuvens. Acontece que já se passaram algumas horas de caminhada e nada de o sol aparecer. Mas não tem problema, essa tonalidade é fascinante. Meio que parece um céu pintado por Monet, criando uma atmosfera sobrenatural em que sentimentos enterrados ressurgem de suas tumbas faraônicas e vem conversar conosco tal como um juiz interrogando o réu.
Puta merda, é real! Estou aqui, caminhando pelo meu vazio. Hum... Nossa! Que maravilha, meu próprio vazio... Como é grandão! De repente, não mais que de repente, este lugar se mostra mais aprazível do que nunca. Não me parece mais tão chato ficar por aqui. Não há perturbação, trabalho, calor... E o melhor, não há ninguém para eu ferir ou entristecer. Este é o meu vazio.
Pronto, aqui encontrei minha redenção. Ótimo lugar. Vou ficar por aqui até segunda ordem de minha consciência. Perfeito. Se este lugar não existisse eu teria que inventá-lo.
Quase me esquecia de você, intrigante leitor. Não te preocupes, ficarás bem longe de mim, tenha certeza. Não sou boa companhia para ninguém. Neste momento de minha vida, minha consciência precisa de mim mais do que ninguém e aqui, no meu vazio, encontrei solo fértil para germinar discernimento e maturidade para tomar as decisões que se colocam aos meus olhos. Este realmente é um ótimo lugar, ao final.
Por enquanto, isso é tudo que posso adiantar sobre esta road trip, até porque ainda estou no início. Espero encerrá-la antes do ar fugir de meus pulmões, antes que se faça silêncio no meu peito, antes que desapareça o brilho dos meus olhos, antes que se desfaça o sorriso em teu rosto. Até breve.

3 comentários:

  1. É sempre uma boa alternativa escrever sobre a dificuldade de inspiração. Sai uma coisa "vazia, mas cheia dela mesma..." Gostei muito desse vazio-cheio.
    "Isso não pode ser real. Será um sonho? Ou estou muito bêbado para lembrar que estava me alcoolizando e que há muito não sei quem sou?"
    Muito bem colocado esse parágrafo.

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  2. Nossa, ler isso numa madrugada de domingo para segunda dá uma sensação assim, uma vontade de passar a semana inteira pensando na vida. rsrs.

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  3. É cara, isto na verdade não é vazio, este na verdade é o momento em que tu ao procurar algo no nada, encontra o que o homem sempre teve dentro de si: a inquietação do ser do existir..........

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