sábado, 10 de abril de 2010

Poço de Bondade

Ah! Poço de minha vida.
Poço de Bondade. Poço dos desejos
Poço de minha água platônica.
Quanto chorei em ti, pensando em meu último romance...

Poço de compreensão. És agora parte de mim.
Parte que chega a ser todo de tanto que é.
Parte que me domina, que me assusta, que me beija
Que me acompanhará por todo o mundo

Esperei por anos a fio, sem saber se poderia beber de tua água
Decorando os teus movimentos
Decorando tua assinatura

Oh! Poço de Bondade, és mais que isso
Ensinaste-me sobre a vida
Ainda que calado, ainda sem demonstrar tua vontade

Perdoe-me se busquei o alvoroço deste rio
Apesar de oferecer-me a tua calmaria
Sou assim mesmo. Meio louco, meio gauche
Meio vivo, meio morto.

Quero ser poeta, e por isso se paga um preço
E que preço!
Meu Poço de Bondade... Perdão!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Vazio

Tento por 5 minutos. Paro. Leio frases aleatórias. Tento novamente por cerca de mais 3 minutos. Nada. Desisto por 3 dias. Voltam-me as estórias dentro da cabeça. Imagino cenas que se adaptam aos versos que me são revelados pelo meu consciente desviado. Ligo o personal comupter. Incursiono pelo vazio. E o vazio não é tão vazio assim quanto pensava. Na verdade o vazio é cheio de coisas, em sua maioria velhas.
Além disso, e como se não bastasse, o vazio é cheio dele mesmo. Frio e muito intenso. Realmente, não é um bom lugar para se estar de livre e espontânea vontade. Problema maior existe quando somos jogados para lá em uma viagem, ao menos aparentemente, sem volta e sem acompanhante. Aí, estranho interlocutor, a coisa fica deveras feia.
Nessa minha road trip pelo vazio procuro pelo carimbo que validou o meu ticket, permitindo minha entrada nesse recinto tão... Vazio! Talvez um nome, uma data uma matrícula que possam me ajudar a lembrar dos fatos, os mais importantes, ou os sujeitos, os mais culpados.
Prossigo rumo ao centro do vazio com certa curiosidade e ânsia, olhando para todos os lados em busca de algo familiar, mas nada reconheço. E constato assustado, que tal como o universo, o vazio permanece em constante expansão, alargando suas fronteiras a todo instante.
Isso não pode ser real. Será um sonho? Ou estou muito bêbado para lembrar que estava me alcoolizando e que há muito não sei quem sou? Pela tintura do céu acredito que a alvorada já esteja caminho, pois os primeiros raios já se espremem pelas nuvens. Acontece que já se passaram algumas horas de caminhada e nada de o sol aparecer. Mas não tem problema, essa tonalidade é fascinante. Meio que parece um céu pintado por Monet, criando uma atmosfera sobrenatural em que sentimentos enterrados ressurgem de suas tumbas faraônicas e vem conversar conosco tal como um juiz interrogando o réu.
Puta merda, é real! Estou aqui, caminhando pelo meu vazio. Hum... Nossa! Que maravilha, meu próprio vazio... Como é grandão! De repente, não mais que de repente, este lugar se mostra mais aprazível do que nunca. Não me parece mais tão chato ficar por aqui. Não há perturbação, trabalho, calor... E o melhor, não há ninguém para eu ferir ou entristecer. Este é o meu vazio.
Pronto, aqui encontrei minha redenção. Ótimo lugar. Vou ficar por aqui até segunda ordem de minha consciência. Perfeito. Se este lugar não existisse eu teria que inventá-lo.
Quase me esquecia de você, intrigante leitor. Não te preocupes, ficarás bem longe de mim, tenha certeza. Não sou boa companhia para ninguém. Neste momento de minha vida, minha consciência precisa de mim mais do que ninguém e aqui, no meu vazio, encontrei solo fértil para germinar discernimento e maturidade para tomar as decisões que se colocam aos meus olhos. Este realmente é um ótimo lugar, ao final.
Por enquanto, isso é tudo que posso adiantar sobre esta road trip, até porque ainda estou no início. Espero encerrá-la antes do ar fugir de meus pulmões, antes que se faça silêncio no meu peito, antes que desapareça o brilho dos meus olhos, antes que se desfaça o sorriso em teu rosto. Até breve.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Aceitação

O que realmente sou?
Pura matéria pútrida, fétida e fudida.
Seria isso mesmo, uma negação de existência!
Egoísta por natureza, já nasci deste tamanho, sem tirar nem pôr.
Profundissimamente néscio.
Eu mesmo pegarei a tesoura e me cortarei. Em fiapos, em trapos.
Posso sobreviver a mim mesmo? Difícil.
Não sou meramente suportável.
Quantos já matei ou feri mortalmente? Aleijei...
Não existe punição maior para os meus crimes,
Minha vida é a própria sentença.
Por derradeiro que pareça, me alivia a certeza do fim próximo.
Saber que sou apenas um, e esse mundo é grande, tão grande...
Incrível como tanto amor pode transformar-se em raiva, rancor, ódio.
Isso é próprio de nossa raça subdesenvolvida e involuída.
O que posso fazer...
Creio que acabar com esses versos já estaria de bom tamanho.

Se me arrependo?

Sim.
Me arrependo do beijo que não dei
Do abraço do qual me esquivei
Das desculpas que não pedi
Do perdão que não concedi
Dos elogios que não fiz
Dos sorrisos que nunca provoquei
Da vida que não levei
Da confiança que descartei
Da lágrima que não chorei
Da palavra que não falei
Da compreensão que não tive
Ah! Só me resta a escrita
Torpe arma
Além do álcool
Falso amigo
E, ao final,
A morte...
Morte.

Autobiografia

Eu só queria ver o mar.
E o oceano me dragou pra dentro de sua imensidão
De forma misteriosa e assustadora.

Vi-me dentro de sua imensidão, de sua complexidade
E me assustei ao admirá-lo por dentro.
No instante seguinte já era seu prisioneiro
Preso em meu próprio sonho
Enredado pela ilusões que inventei
Tal como um louco que se descobre louco
E prefere continuar em sua loucura por misericórdia

O chão seco, outrora monótono e carcereiro
Parece-me agora tão distante
Como se pertencesse a uma outra vida
E tão cheio dessa mesma vida, completo
Que me assusto mais uma vez
Ao lembrar de minha felicidade e sentir minha tristeza
Na frieza desta vastidão aquática

Nada me faz companhia. Nem a água. Nem a vida.
Não era isso o que eu queria. Só queria ver o mar
E o oceano me dragou pra dentro de sua imensidão

Tornei-me prisioneiro de minha liberdade.